quarta-feira, 25 de junho de 2014

A praia das lavadeiras no Ginjal

... ficava entre o cais do velho Moreira e toda a muralha da fábrica de conservas de peixe La Paloma.

Praia das Lavadeiras, Ginjal, Alfredo Keil.
Imagem: Casario do Ginjal

Era nestas areias que há séculos as mulheres da vila vinham lavar a roupa.

Almada, Boca do Vento, ed. Paulo Emílio Guedes & Saraiva, 12, década de 1900.
Imagem: Fundação Portimagem

Cavavam com a enxada junto à muralha do cais, e logo a água doce e cristalina borbotava e fazia poça.

Juntavam uma tábua, ou em vez desta uma pedra lisa, mais sabão, água, esfrega que esfrega, bate que bate [...]

Houve ainda o velho espanhol, o sr. Moreira, da fábrica de conserva de fruta, caçador e columbófilo, que vivia amancebado com a menina Teresa, sopeira gordinha e risonha, que lavava roupa na Praia das Lavadeiras, sempre de barriga com um menino dentro, que o velho e achacado Moreira perfilhava e ensinava a parlar espanhol...

Sociedade Mercantil Luso Brasileira, Lda.
Sucessores A. Leão & Cia. e Lino & C., Ginjal — Almada.

Ao chegar à Praia das Lavadeiras havia um grande sarrabulho. 

Aproximei-me e dei fé de duas mulheres a agatanharem-se fora das poças.

Outras faziam coro e tomavam partido.

Cá em cima, na muralha, alguns homens riam e galhofavam.

O apito da fábrica La Paloma berrou violento e prolongado, e o pessoal começou a sair para o almoço.

La Paloma, conservas de peixe, anúncio de 1947.
Imagem: Gonçalves, Elisabete, Memórias do Ginjal.

Embrenhei-me entre os operários que fervilhavam no cais, homens, mulheres e fedelhos...

Cais do Ginjal e fábrica La Paloma, Amadeu Ferrari, década de 1940.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Da fábrica de conserva La Paloma, a da pomba branca, dos buques atestados de sardinha-prata e das varinas chilreantes e brejeiras, além da recordação restam os caboucos, pois um fogo há muito consumiu-lhe tudo. (1)

Romeu Correia no miradouro Luís de Queirós ou Boca do Vento.
Imagem: Wikipédia


(1) Correia, Romeu, O Tritão, Lisboa, Editorial Notícias, 1982, 174 págs.

Bibliografia:
Gonçalves (coord.), Elisabete, Memórias do Ginjal, Almada, Centro de Arqueologia de Almada, 2000, 88 págs.

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